quarta-feira, março 22, 2006

O Ideal da Amizade

A camaradagem, o companheirismo, às vezes, parecem amizade. Os interesses comuns por vezes criam situações humanas que são semelhantes à amizade. E as pessoas também fogem da solidão, entrando em todo o tipo de intimidades de que, a maior parte das vezes, se arrependem, mas durante algum tempo podem estar convencidas de que essa intimidade é uma espécie de amizade. Naturalmente, nesses casos não se trata de verdadeira amizade. Uma pessoa imagina que a amizade é um serviço. O amigo, assim como o namorado, não espera recompensa pelos seus sentimentos. Não quer contrapartidas, não considera a pessoa que escolheu para ser seu amigo como uma criatura irreal, conhece os seus defeitos e assim o aceita, com todas as suas consequências. Isso seria o ideal. E na verdade, vale a pena viver, ser homem, sem esse ideal?

E se um amigo falha, porque não é um verdadeiro amigo, podemos acusá-lo, culpando o seu carácter, a sua fraqueza? Quanto vale aquela amizade, em que só amamos o outro pela sua virtude, fidelidade e perseverança? Quanto vale qualquer afecto que espera recompensa? Não seria nosso dever aceitar o amigo infiel da mesma maneira que o amigo abnegado e fiel? Não seria isso o verdadeiro conteúdo de todas as relações humanas, esse altruísmo que não quer nada e não espera nada, absolutamente nada do outro? E quanto mais dá, menos espera em troca? E se entrega ao outro toda a confiança de uma juventude, toda a abnegação da idade viril e finalmente oferece a coisa mais preciosa que um ser humano pode proporcionar a outro ser humano, a sua confiança absoluta, cega e apaixonada, e depois se vê confrontado com o facto de o outro ser infiel e vil, tem direito de se ofender, de exigir vingança? E se se ofende e grita por vingança, era realmente amigo, o traído e abandonado?
Sándor Márai, in 'As Velas Ardem Até ao Fim'
Pensem nisto...

6 comentários:

BruMau disse...

Amigo é aquele que está presente... mesmo sem estar. Por vezes somos egoistas e só olhamos para o nosso umbigo e temos de o deixar de fazer pq à sempre alguém que se preocupa connosco, ainda bem que assim é, porque senão existe... o mal se calhar não é só dos outros...

Unknown disse...

Antes de mais, eu fiquei assustado a pensar "o Samuka escreveu isto?!?!?", estava bom demais... Mas depois vi que era de fonte externa... Ufa... Estava a ver que o unico burro aqui era eu... Avante...
:D
A palavra "Amigo", tal como "Saudade", são palavras que não se explicam... Sentem-se...
Amigos são... Todos vocês!!

mnica ;* disse...

o "amigo" não é perfeito.
Para mim, o "amigo" é a familia que eu escolhi e que aceitou fazer parte desse estatuto. Mas: não descutes com a tua família? Não exiges atenção quando tens um doidoi e ninguém olha para ti? Não ficas triste quando eles te magoam e maltratam seja com ou sem motivações?

Morreia pelo "amigo", mas, infelizmente, algumas pessoas ensinaram-me que há "amigos" que tu nunca abandonaste, nunca esqueceste, sempre deste sem pedir de volta e no final... só tu é que eras "amigo", pois elas nunca o fizerem - nem de vontade, nem em retribuição.
Se ser "amigo" é ser presente, fiel, interessado e preocupado, companheiro de bonanças e tempestades, (e o resto que cada um acrescenta de seu coração)estas coisas não podem ser nunca unilaterais - hoje dás tu, amanhã recebes! ou então... há alguém que não está a ser "amigo"

Lamento, mas talvez tenha ainda alguma amargura nas palavras... enganos e desenganos... é vida!
Jinhos ;*

Unknown disse...

Sim senhor, estou a gostar.

BruMau disse...

momento RFM: "E já agora, vale a pena pensar nisto!!"

>-)

Uwish4 disse...

olha olha.... a primeira frase do primeiro comment é uma que eu coloquei num post meu... lol... é verdade é brumau... pois é...